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BRUNO BELTRÃO & GRUPODERUA

Das matinês em Niterói, aos 12 anos, até aos palcos internacionais, o percurso de Bruno Beltrão enquanto coreógrafo é indissociável das suas raízes. Neste microsite, regressamos ao passado para descobrir toda a viagem do criador e diretor do Grupo de Rua até aos dias de hoje.

Estilos de dança urbana no contexto do teatro conceitual e influências do hip-hop fazem parte da identidade do Grupo de Rua demarcam-se pelas paisagens coreográficas abstratas desconstruindo os estilos street dance e dança contemporânea, mas também por oscilarem entre extremos: mediação e fúria, suavidade, força, virtuosidade, reflexão.

Das matinês em Niterói, aos 12 anos, até aos palcos internacionais, o percurso de Bruno Beltrão enquanto coreógrafo é indissociável das suas raízes. Neste microsite, regressamos ao passado para descobrir toda a viagem de um dos criadores e diretor do Grupo de Rua até aos dias de hoje.

Chegaram a criar juntos um grupo chamado Power Dance so com amigos do bairro, em São Francisco onde eram vizinhos e ensaiavam passos para apresentar na Scaffo aos finais de semana, no Clube Naval.

No início de 1993, Bruno e seus amigos exploraram a cena de dança na cidade de Niterói, frequentando a boate Scaffo, um local popular entre jovens amantes da dança. Influenciados pelos movimentos de MC Hammer e Vanilla Ice, Michael Jackson além de R&B e New Wave que ecoavam na boate, Bruno, no início reticente, passou a se encantar gradualmente com a prática. Observando de longe seus amigos Rodrigo, Nathan, Allan, desenvolveu uma paixão pela dança que eventualmente traçaria sua carreira futura.
 

Inicio dos anos 90 

O encontro de Bruno e Rodrigo foi no minimo curioso.  Bruno se acomodou à mesa, aguardando Nathan, enquanto Rodrigo fazia o mesmo para esperar a chegada de Allan, irmão de Nathan. Estavam ali, sentados frente a frente em um silêncio inicial quase desconcertante. E sem palavras, uma batucada foi surgindo como quem não quer nada entre eles na mesa. E ficaram ali batucando até a chegada dos irmãos. marcando o início de uma amizade e uma longa colaboração artística.

Batucada para conhecer

Boate Scaffo nos ano 90 em Jurujuba, Niteroi

SCAFFO

Da boate a academia

Em 1994, após um ano frequentando a boate Scaffo, Bruno e Rodrigo foram surpreendidos por uma novidade trazida por um  amigo deles, Douglas. Graças a ele ficaram sabendo que um professor americano dava aulas de hip hop na academia Ativa, em Icaraí. Mas essa informação não era muito precisa. Na verdade, o professor era o israelense Yoram Zsabo, que não ensinava hip hop, mas sim uma espécie de Street Jazz. 

Yoram Szabo, um professor de Jazz e Hip Hop de 32 anos, que trabalhou entre Nova York e o Brasil nos anos 90. Originário de Israel, Yoram aprimorou suas habilidades em dança, canto e teatro em Nova York e Filadélfia, trazendo suas aulas para academias renomadas no Rio de Janeiro, como Carlota Portela e Enid Sauer. Seu estilo de dança, desenvolvido nas academias é uma mistura de New Jack Swing, Jazz. nas ruas de Nova York, era conhecido por seus movimentos leves e soltos que enfatizavam a diversão e o exercício físico, acessíveis a alunos de todos os níveis técnicos. Yoram Szabo deixou uma impressão duradoura antes de encerrar sua carreira docente, planejando cursos em cidades como Salvador e Aracaju, e solidificando seu papel como um influenciador na disseminação do Hip Hop no Brasil.

Ensinar para aprender

Dois anos após o início das aulas com Yoram, que não retornou ao Brasil para continuar seus workshops, Bruno e Rodrigo se viram em frente do desafio de manter sua prática de dança. Diante da ausência de um mentor, eles tomaram uma decisão inusitada: começar a ensinar dança.

Encorajados por suas amigas de adolescência, Vanessa Motta e Tania Mara, que frequentavam assiduamente uma das academias mais antigas e renomadas de Niterói, eles foram apresentados à professora Helfany Peçanha. Com seu incentivo, Bruno e Rodrigo começaram a dar aulas na academia, aos 15 anos, em 1995.

Track Name

No mesmo ano, coreografam seu primeiro trabalho criado para o final de curso da academia Helfany e Jânia com musica Now that we found love do Heavy D and the Boys.

A primeira coreografia

No mesmo ano, coreografam seu primeiro trabalho criado para o final de curso da academia Helfany e Jânia com musica Now that we found love do Heavy D and the Boys.

No mesmo ano, coreografam seu primeiro trabalho criado para o final de curso da academia Helfany e Jânia com musica Now that we found love do Heavy D and the Boys.

Em 1995, o primeiro encontro entre Bruno, Rodrigo e Ugo Alexandre se deu em um contexto de competição, durante um festival no Teatro Liceu de Artes e Ofícios,  um evento que marcaria o início de uma amizade e colaboração. 

Mas meses antes disso acontecer, Helfany Peçanha, a diretora da Academia onde Bruno e Rodrigo ensinam e coreografam, ja elogiava o trabalho de Ugo e seu grupo, o legendário Jazz de Rua do Rio de Janeiro, destacando suas frequentes vitórias em festivais pelo Rio.

 

Em um momento marcante da competição, um bailarino do Jazz de Rua realizou um salto de forma tão impressionante que Rodrigo comentou com Bruno: "Perdemos". De fato, o Jazz de Rua venceu o festival, e "Aeroporto" conquistou o segundo lugar. 

 

Ugo fez questão de ligar para Bruno e Rodrigo, não só para parabenizá-los pela apresentação, mas também para estabelecer um contato pessoal, iniciando uma profunda amizade e colaboração entre eles que se estenderia por muitos anos.

No ano seguinte, eles lançaram "Aeroporto", uma performance criada para o seu segundo espetaculo de fim de ano na Helfany. Com apenas cinco minutos de duração, a coreografia retratava uma situação de ameaça de bomba em um aeroporto, que escalava até a chegada dramática do esquadrão anti-bombas para neutralizar o perigo.

A influência de Santos

É quase impossível encontrar um grupo de dança de rua dos anos 90 que não tenha sofrido influência do "Dança de Rua do Brasil", liderado por Marcelo Cirino. O Grupo de Rua não foi exceção. Durante esse período, a metodologia e o estilo com que o Grupo de Rua operava refletiam as influências do grupo santista. A "Dança de Rua do Brasil" era conhecida por sua técnica diversificada, que mesclava elementos de aeróbica, jazz, popping, b-boying, acrobacias e vogue,

Em 15 de julho de 1996, a trajetória de Bruno e Rodrigo atingiu um marco decisivo com a fundação do Grupo de Rua de Niterói, na Academia Rose Mansur. Após dois anos na Academia Helfany e Jania, aos 16 anos, os dançarinos buscaram um novo espaço para expandir suas ambições artísticas, como representar a cidade em eventos no brasil e no exterior. Com a generosa acolhida de Rose Mansur, que abriu as portas de sua academia, eles realizaram a primeira audição que daria vida ao grupo. 

O nascimento do GRN

Grupo de Rua

3ª guerra adolescente

Desde sua formação, o Grupo de Rua não perdeu tempo em marcar seu território no competitivo mundo dos festivais de dança. Com "A Última Profecia", uma coreografia inspirada nas previsões de Michel de Nostradamus, Esta coreografia pavimentou o caminho para uma série de vitórias, com o grupo conquistando primeiro lugar em todos os nove festivais nos quais competiram, oito no estado do Rio e um na Itália. 

A Última Profecia' marca o início do Grupo de Rua na cena da dança amadora

 O VHS que chocou o Rio

"O Grupo de Rua de Niterói (GRN), já ativo há cerca de dois anos, teve seus horizontes no mundo do B-boying significativamente expandidos por um evento marcante. A transformação começou quando Fera e Maluquinho, dois b-boys do Pará, trouxeram para o Rio de Janeiro uma fita VHS com trechos do campeonato 'Battle of the Year' de 1998. Este torneio internacional, um dos mais prestigiados no cenário do b-boying, incluía uma batalha icônica entre as crews Suicidal Lifestyle e Phaze II. A fita rapidamente se tornou uma espécie de manual visual para o GRN, uma fonte de inspiração e aprendizado que os membros estudavam incessantemente.

 

A batalha entre Suicidal Lifestyle e Phaze II é frequentemente vista como um marco na história do breakdance, destacando-se por mostrar os talentos de b-boys notáveis como Mr. Do, Wicked, Javier e o jovem K-Mel. Esta competição exemplificou a essência das verdadeiras batalhas de breakdance, com cada participante exibindo habilidades impressionantes e um respeito profundo pelos adversários, esforçando-se para superar o movimento anterior com criatividade e destreza.

György András, também conhecido como Gombily e participante nesta batalha histórica, testemunhou em primeira mão a competição respeitosa e focada na perícia que muitos consideram representar a idade de ouro do b-boying. K-Mel, com apenas 17 anos na época, impressionou com seus movimentos inovadores e inspirou gerações futuras de dançarinos. Esta batalha não só enriqueceu a experiência do GRN mas também continua a ser uma referência de excelência e paixão no mundo do breakdance.

Momento em que o GRN ouve o resultado do Festival Tapias em 1996

Da rua ao trumbling 

Entre 1997 e 1999, o Grupo de Rua teve a  oportunidade de aprender ginástica olímpica com o lendário professor Werneck. Ele era um dos instrutores mais respeitados da cidade, e também uma figura marcante na vida de Beltrão.

 

A visita dos Gêmeos

Jorge Sankler e Jorge Luciano Neres de Carvalho, gêmeos com um pé no circo e outro na cena hip hop, são conhecidos por suas acrobacias espetaculares.
 
Em uma ocasião, eles visitaram um treino do Grupo de Rua, liderado por Werneck, no colegio Salesianos, em Niteroi. Werneck e os Gemeos faziam alguns projetos juntos.  
 
Durante a visita, um dos irmãos, executou uma manobra impressionante. Ele iniciou um mortal para trás, mas, em um movimento surpreendente, decidiu interromper a acrobacia no ápice e aterrissou suavemente em uma cama de mola. A cena inesperada deixou todos os bailarinos do Grupo boquiabertos, marcando o dia com um misto de suspense e admiração.

A experiência com o professor Werneck

Bruno, que havia sido aluno de Werneck dos 7 aos 12 anos na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), reencontrou seu mentor numa fase crucial. Esse reencontro reacendeu a paixão de Bruno pelo esporte e selou uma parceria única: em troca de treinamento, o grupo se apresentava em alguns eventos de ginástica organizados por ele. Após o falecimento de Werneck, a prefeitura de Niterói criou o Torneio Carlos Werneck de Ginástica, honrando seu legado e mantendo viva sua memória na comunidade da Ginastica Artistica. 

Metrópole

Criado para o espetáculo de fim de ano na Academia Rose Mansur, o GRN estreia 'Deus Trovão'.

 

Mas foi só o começo, porque depois de um tempo ajustando e adicionando umas coisas aqui e ali, "Deus Trovão" evoluiu e virou "Metropole". A coreografia levou o grupo para participações especiais em programas de TV e todo tipo de evento.

As Trevas

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Os primeiros anos do Grupo de Rua

Competições, eventos e TV

Desde sua formação, o Grupo de Rua não perdeu tempo em marcar seu território no competitivo mundo dos festivais de dança. Com "A Última Profecia", uma coreografia inspirada nas previsões de Michel de Nostradamus, eles rapidamente se estabeleceram em festivais competitivos. Esta coreografia pavimentou o caminho para uma série de vitórias, com o grupo conquistando troféus em todos os nove festivais nos quais competiram. 

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A Experiência

"A Experiência", a terceira coreografia do Grupo de Rua, estreou com grande expectativa no Festival Tapias em 1997, no Teatro Carlos Gomes. Após a peça anterior, o grupo estava ansioso para repetir o feito de conquistar o primeiro lugar. A coreografia narrava a história de uma cientista que refletia sobre suas advertências ignoradas pela comunidade científica acerca de uma iminente catástrofe. Em um dos momentos da apresentação, o Grupo de Rua criou uma cena com quatro galões que acendiam e apagavam ao pisar dos bailarinos, criando um quarteto de luzes que arrancou aplausos estrondosos do público. Esses galões, que se tornaram um símbolo visual impactante do espetáculo, foram construídos pelo pai de Bruno, João Marcos. O esforço e a criatividade do grupo foram recompensados, pois eles venceram o primeiro lugar na competição.

Passos até o primeiro voo

A viagem teve vários momentos de celebração, mas um teve sabor especial. Após ter chamado a atenção de um juiz que assistiu a apresentação, o GRN foi convidado para um churrasco de pizza, prato emblemático da cidade, que começou com a invenção Margherita durante o século XIX.  Com vista para a baía de Nápoles, o grupo experimentou a autenticidade da receita local, uma maneira fechar a viagem e comemorar a vitoria.

Sem desistir até o final, as produtoras do grupo Norma e Ana conseguiram um apoio do governo do Estado do Rio de Janeiro. Em troca de comprometer-se a realizar oficinas e apresentações futuras, o grupo foi contemplado com 14 passagens aéreas, abrindo caminho para sua primeira viagem internacional.

Bruno, Rodrigo e Rachel Correa, na Faculdade da Cidade, feveireiro 2000. 

Em 1998, o GRN apresentava sua coreografia "Metrópole" na Bienal do Livro no Rio Centro, quando, Alfredo Appicella, italiano proprietário de uma academia de dança e idealizador do Festival Internacional di Funk ENDAS em Nápoles, estava na plateia. Encantado pela performance, Appicella convidou o grupo para competir na Itália, embora sem oferecer as passagens aéreas necessárias.

E na competição, o Grupo de Rua conquistou o primeiro lugar entre dez grupos de toda a Europa, com este se tornando o ultimo festival competitivo que o Grupo iria participar.

Bruno, Rodrigo e Rachel Correa, na Faculdade da Cidade, feveireiro 2000. 

...e se for dirigir, não dance

De volta a Niterói após o sucesso no Festival Internacional di Funk ENDAS, o Grupo de Rua se prepara para um novo desafio: participar de um espetáculo de circo na Concha Acústica com o renomado diretor francês Pierrot Bidon. Encantado com o talento do grupo, Bidon os convida para participar do "Circo da Madrugada", um espetáculo com 50 artistas de diversas origens. A temporada começa em Niterói em 2000 e se estende a Lyon, na França. 

Visita ao circo

Em meio aos preparativos para o espetáculo na Concha Acústica de Niterói, durante um dos ensaios, Bruno tomou uma decisão que mudaria seu papel na companhia.

Ciente de sua dificuldade em conciliar as funções de diretor e dançarino, Bruno falou com  Rodrigo sobre sua intenção de se afastar dos palcos e se dedicar exclusivamente à direção e coreografia. Essa decisão, tomada precocemente abriu espaço para que Bruno explorasse seu potencial como líder e criador, impulsionando o Grupo de Rua para novos patamares. A partir desse momento, Bruno dedicou-se integralmente à direção e coreografia. 


Pierrot Bidon foi um visionário do mundo do entretenimento circense, mais conhecido por fundar o icônico circo francês Archaos, que revolucionou a arte circense moderna nos anos 80.
O estilo de Bidon foi fundamental para o desenvolvimento do "novo circo", uma vertente que enfatiza uma narrativa forte e inovações estéticas, influenciando gerações de artistas circenses em todo o mundo. Sua obra permanece um legado de criatividade e ousadia, celebrada por transformar radicalmente a percepção pública do que poderia ser um espetáculo circense.

Turbulência após o voo

Ao voltar ao Brasil, Bruno, Rodrigo e as produtoras Norma e Ana se viram no meio de uma tempestade. Um grupo de mães, apreensivas com a segurança de suas filhas durante uma temporada na Itália, acusou o grupo de falta de comunicação, desencadeando um intenso conflito. A situação escalou ao ponto de afetar o financiamento do grupo pela Neltur, empresa de esportes e turismo de Niterói, que decidiu suspender sua ajuda de custo de  dois mil reais dado a todo o grupo.

Enquanto a confusão se instalava, Bruno se viu num momento decisivo. Além da tensão no grupo, ele também estava no fim de seus estudos secundários, debatendo-se com a escolha de qual faculdade cursar. Desiludido com os projetos temporários e superficiais que vinham fazendo, Bruno sonhava com algo mais significativo. Ele estava dividido entre seguir um curso em cinema ou em dança. Influenciado por Vanessa e Tânia Mara, que já estavam na faculdade de dança, Bruno começou a considerar seriamente essa última opção.

Chão para um paraquedas aberto

Rodrigo Bernardi, Ugo Alexandre, Paulo Azevedo, Bruno Beltrão e Guto Vieira, na Faculdade da Cidade, fevereiro 2000. 

Em 2000, Bruno e seus amigos Rodrigo, Ugo, Paulo e Guto receberam um empurrão de Tania e Vanessa para mostrar suas pesquisas em hip hop no curso de dança da Faculdade da Cidade. Eles apresentaram o Projeto Dança de Rua 2000, focado em pesquisar e desenvolver tecnologias para o hip hop. Nesse evento, Bruno teve um encontro com o professor Roberto Pereira, que não apenas o incentivou a se matricular na faculdade, mas também se tornou um mentor  para ele. Entrar no Centro Universitário da Cidade abriu um novo capítulo na vida de Bruno, dando início a uma transformação significativa na sua carreira artística e a um período de crescimento e exploração criativa.

Com a orientação de Pereira e da professora Silvia Soter, Bruno se aprofundou no cenário da dança contemporânea do Rio. Ele foi influenciado por nomes importantes como Paulo Caldas e Maria Alice Pope da Stacatto Cia de Dança, Esther Weitzman e Lia Rodrigues. Além disso, ele começou a explorar o trabalho de ícones internacionais como Jerome Bel, William Forsythe e Anne Teresa de Keersmaeker, todos conhecidos por suas abordagens inovadoras e desafiadoras às formas tradicionais de dança. Esse período de intensa aprendizagem e intercâmbio foi crucial para Bruno desenvolver uma linguagem coreográfica única, que ele exploraria em seus projetos futuros com o Grupo de Rua.

Guinada a esquerda

Neste trabalho seminal, coreografado a convite de Beatriz Radunzsky, do Sesc Copacabana, para a Mostra Duos de Dança, a peça refletia as influências acadêmicas de Beltrão e seu desejo de experimentar algo diferente do que faziam antes.  'Do Popping ao Pop' não só transformou a direção artística do grupo mas também estabeleceu a fundação para futuras produções que continuariam a explorar e expandir os horizontes de um novo campo, sugerido mais tarde pelo critico Roberto Pereira como uma 'dança de rua contemporânea'.

A peça "Do Popping ao Pop" marcou um ponto de virada crucial na trajetória de Bruno e do Grupo de Rua. Criada em 2001, a obra representou uma evidente significativa ruptura com a dança de rua mais convencional que o Grupo praticava, introduzindo uma abordagem que mesclava a linguagem base do hip-hop com recursos há muito recorrentes da dança contemporânea.

Chão a um paraquedas aberto

     Horas antes de subirem ao palco para uma apresentação comercial de uma marca de iogurte em um centro de convenções em São Paulo, Bruno e Eduardo estavam envolvidos numa conversa casual no quarto. Sem que Eduardo soubesse, Bruno decidiu gravar esse diálogo, usando-o como ponto de partida para uma profunda reflexão sobre a relação entre personalidade e gesto. A pergunta que movia Beltrão era intrigante: é possível conhecer alguém através de sua maneira de dançar?
     Em 2002, essa questão ganhou vida no palco do Teatro Sergio Porto, durante o Festival Panorama da Dança, onde a peça foi apresentada pela primeira vez.

amizade, filosofia e chá de cogumelo

Dança encarnada

Bruno  tem uma notável relação de colaboração com o dançarino Eduardo Hermanson desde 1999. Eduardo é frequentemente destacado por sua técnica e criatividade impressionante. A colaboração entre Beltrão e Hermanson é marcada pela busca constante de novas linguagens corporais e experimentações no campo da dança, o que tem contribuído significativamente para o desenvolvimento de ambos os artistas e para a evolução estética do grupo. Este diálogo permitiu que ambos explorem limites e possibilidades da dança urbana de maneiras inovadoras. Hermanson contribuiu ativamente com outros coreografos como Paulo Azevedo, Kafig e Laura Samy. 

A mais longa e duradoura parceria

Em 2008, o Grupo de Rua regressa com a criação H3 que foca nas pesquisas de movimento relativo ao chão e na subversão espacial. A peça explora possibilidade de contato entre os dançarinos e incorpora influências diversas, de Lalala Human steps, a estudos sobre Hermeto Pascoal. Beltrão voltou a insistir nas corridas de costas e num 'hip hop de contato'.  

H3 é ate hoje a peça da de maior circulação do Grupo de Rua, visitando 16 países durante 5 anos de apresentações. É tambem neste trabalho que Bruno inicia a parceria com o musico Lucas Marcier e Rodrigo Marçal da ARPX.

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H3

Concebida especialmente para o Festival Panorama da Dança, a peça "Too Legit to Quit" foi apresentada em 2 de novembro de 2001 no Foyer do Teatro Carlos Gomes. Analisando desde os pseudônimos dos dançarinos até seus estilos de vestuário e gestos característicos, a performance mergulha na semiótica complexa dessa cultura. "Too Legit to Quit" serve como um guia crítico e acessível para aqueles menos familiarizados com os intricados códigos do hip hop urbano, desdobrando os elementos dessa arte de forma critica e celebratória.

Muito legitimo para acabar?

Astronautas e penguins em guerra

A exploração teatral em "Telesquat" emprega uma abordagem mais experimental influenciada por artistas como o francês Jerome Bel.
 

Em 2003, a convite de Leonel Brum, diretor do Festival Dança Brasil no Centro Cultural Banco do Brasil, o Grupo de Rua de Niterói (GRN) estreou a peça "Telesquat".
 
"Telesquat" mergulha no domínio da dança conceitual, examinando a relação entre linguagem, ação e palco. A peça, cujo nome deriva de um termo dos anos 50 que descreve os efeitos de ver televisão em excesso, incorpora texto e vídeo para desafiar as narrativas convencionais da dança.

Combinando hip-hop, projeções de vídeo e uma dose de caos controlado, a performance desafia os presentes a questionar tudo que era visto, ouvido e dançado.

 "Telesquat" navega entre significados esperados e inesperados, e reflete sobre a possibilidade de encontrar sentido onde menos se espera, ou mesmo de não encontrar sentido algum e aceitar isso tranquilamente.

- O sucesso das companhias de dança da cidade aumentou muito o movimento de novos alunos. A bela trajetória do Grupo de Rua de Niterói, por exemplo, vem fazendo com que muitos meninos procurem as aulas. Aqui dentro, eles se apaixonam pela dança e alguns passam a se dedicar inclusive ao balé clássico, o que é maravilhoso. Isso, certamente, vai render ótimos frutos para a cidade no futuro, com mais bailarínos e até a formação de novas companhias - conta Eloiza Torres, da Camarim Escola de Dança, em Icaraí, uma das matores academias da cidade.

'Espetáculo de popularidade'

Ugo Alexandre iniciou sua carreira em 1991, estabelecendo-se como um pioneiro das danças urbanas no Rio de Janeiro. Foi o fundador do legendário Jazz de Rua, grupo formado por estudantes de danca, street dancers, artistas de circo e notórios por vencerem varios festivais da sua época.

Sua carreira internacional começou no Grupo de Rua em 2004, ao substituir a saida de um bailarino no espetáculos em turnê "Too Legit to quit" e Telesquat. Como bailarino destas duas peças Ugo chegou a conhecer 20 paises.

Após a saída Gabriela Monnerat em 2007, torna-se assistente de direção de Bruno na peça "H3". Durante seus 16 anos na companhia, Ugo participou da criação de 3 das 9 peças da companhia. (H3, Crackz e Inoah) 

Fora do Grupo de Rua, Ugo dirigiu com Renato Cruz, o espetáculo "Roots", que promoveu uma interação entre o balé clássico e as danças urbanas e foi apresentado no Teatro Casa Grande, no Rio em 2016. Retomou também a sua companhia Rio Hop Cia de Danca, onde apresentou no Teatro Cacilda Becker, a peça Samplers, em 2016.

Como membro da comissão do Sindicato dos Profissionais de Dança do RJ e idealizador do Curso de Capacitação em Danças Urbanas no Rio e em Vitória; e como jurado no Festival de Dança de Joinville de 2017 a 2019, Ugo reforçou seu papel na promoção e educação em dança no cenário nacional.

Ugo Alexandre e Bruno Beltrão em ensaio de Inoah. feveireiro 2017. 

Ugo Alexandre e Bruno Beltrão em ensaio de Inoah. feveireiro 2017. 

Parceiros de dança

Cruzando culturas

Em "H2", Beltrão levou a técnica do top rock, tradicionalmente um elemento do Hip Hop, para além das suas fronteiras usuais, transformando-a numa verdadeira tecnologia de conquista espacial no palco. Alem disso, abordou temas como masculinidade e a tentativa de dançar junto a partir de algumas técnicas do hip hop.

Em 2005, a peça "H2"  marcou a primeira vez que um grupo de dança hip hop brasileiro foi coproduzido por festivais europeus, uma iniciativa que partiu de Simon Dove, diretor do renomado festival holandes Springdance, em Utrecht. 

"H2" conta com um grupo de quatorze dançarinos, escolhidos a dedo entre 250 candidatos de todo o Brasil. 

A cidade - perto do Rio de Janeiro - que deu nome à criação foi onde o Grupo de Rua residiu e criou uma obra que explora a forma como a dança dialoga com as pessoas e o mundo em geral. O espetáculo que passou começou sua turne em 2018 e explorou em palco as ideias de comunidade temporária e a solidão crua. Inoah já tentava dar corpo às contradições violentas que dilaceram a sociedade brasileira e que a Nova Criação vem dar destaque.

Inoah

Crackz

Da rua para o mundo 

A internacionalização da companhia começou em 2002. Desde então, o Grupo de Rua já apresentou seus trabalhos em 35 países

ALEMANHA   Berlim Essen   Frankfurt   Hannover   Recklinghausen  ARGENTINA   Buenos Aires  ÁUSTRIA   Innsbruck   Viena   Salzburg  BÉLGICA   Antuérpia   Bruges   Bruxelas   Gent   BRASIL  Brasília  Curitiba  Fortaleza   Joinville   Juiz de Fora   Londrina   Recife   Rio de Janeiro   Salvador   Santos  São Paulo   Araraquara  Itu  CANADÁ   Montréal   CHILE   Santiago do Chile  CORÉIA DO SUL   Seul  ESPANHA   Barcelona   Gijon   Madri  EMIRADOS ARABES UNIDOS  Sharjah  ESCÓCIA   Edinburgh  ESTADOS UNIDOS  Austin  Boston   Columbus   Houston   Los Angeles   Minneapolis   Nova York  Portland   San Diego   Santa Barbara  Seattle Washington  FINLÂNDIA   Helsinke Kuópio FRANÇA   Aix-en-Provence  Dijon   Gap   Grenoble   Lyon   Montpellier  Mulhouse   Nanterre  Paris   Saint-Quentin-en-Yvelines   Toulouse   GRÉCIA   Atenas   HOLANDA  Amsterdam Rotterdam   HUNGRIA   Budapeste INGLATERRA Londres   ITÁLIA Bolonha  Milão   Modena   Turim   Roma    JAPÃO   Tóquio   Yamagushi    Yokohama  LÍBANO   Beirut   EGITO  Cairo  Alexandria  JORDÂNIA  Amman  SIRIA  Damascus   TUNISIA Tunis   MARROCOS  Rabat   LUXEMBURGO   Luxemburgo    PORTUGAL   Lisboa   Porto  SINGAPURA   Singapura   SUIÇA   Baden   Basel   Fribourg   Lugano  Zug  Geneva Zurique  SUÉCIA  Estocolmo  URUGUAI   Montevidéu

Humanidade em declínio

"Nova Criação", agora rebatizada de "Turvo", pode ser vista como um comentário sobre aspectos sociais durante os anos turbulentos do Brasil sob um governo conservador. Beltrão e o Grupo de Rua utilizam uma metáfora visual poderosa, retratando um país de cabeça para baixo. Esta obra, carregada de alegorias políticas, apresenta uma sociedade onde a moralidade e as leis fundamentais parecem ter desaparecido, capturando o caos através de uma coreografia crua e visceral.
 

"Turvo" não apenas reflete sobre um passado recente marcado por desinformação, violações dos direitos  e violência política, mas também falas sobre as divisões sociais profundas exacerbadas nesses anos. A coreografia espelha essas tensões transformando o palco em um campo de batalha de confrontos dinâmicos e alianças efêmeras. A figura de um sacerdote, que se entrelaça nas sequências, adiciona profundidade à peça, sugerindo uma crítica aos controversos vínculos de facções religiosas. Com uma trilha sonora que oscila entre ritmos sintéticos e batidas tribais, a performance se desdobra em uma narrativa que desafia o público a refletir sobre a resiliência e as complexidades do Brasil contemporâneo. Enquanto as paisagens políticas continuam a se transformar, "Turvo" não serve apenas como um registro de um momento, mas como um questionamento artístico contínuo de uma nação em constante mudança.

Ugo Alexandre e Bruno Beltrão em ensaio de Inoah. feveireiro 2017. 

Teste

Esse trabalho levou o grupo a um festival competitivo em São Paulo, onde conquistaram o terceiro lugar. Foi nesse evento que eles tiveram o primeiro contato com o Blackout, um dos grupos paralelos do projeto Dança de Rua do Brasil.

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