H2 2005 — o carro-chefe de Bruno Beltrão

H2 2005 — o carro-chefe de Bruno Beltrão
Eduardo Fradkin
O Globo
Planos do coreógrafo para 2006 incluem software e direção de longa
O maior sucesso do Grupo de Rua de Niterói este ano foi um espetáculo peculiar: "H2 2005" teve uma única apresentação em solo brasileiro (o suficiente para ser incluído entre os dez melhores do ano), no palco carioca do Teatro Municipal, durante o 14° Panorama Rio Dança, e os artistas literalmente pagaram para trabalhar. Desembolsaram R$ 15 mil no cenário. Os 1.800 espectadores que viram a montagem, no dia 1º de no-vembro, aplaudiram muito os 12 bailarinos em cena. Eles transformaram cliches do hip hop em novos movimentos de dança, explorando possibilidades do corpo e do espaço à sua volta, e ainda subverteram estereótipos. No meio do es-petáculo, por exemplo, os 12 homens se beijaram na boca.
**Espetáculo já foi visto em cinco países**
- Com "H2 2005", o Grupo de Rua de Niterói, que foi fundado em 1996, apresentou-se pela segunda vez no Munici-pal. Foi numa terça-feira e o cachê foi de R$ 3 mil. A primeira vez tinha sido no domingo anterior, com coreografias mais antigas, dentro do projeto Domingo no Municipal, com cachē de R$ 9 mil. Usamos os R$ 12 mil desses dois pagamentos e mais R$ 3 mil dos nossos bolsos para montar
"H2 2005", que tem uma apare-Ihagem cara. O maior problema é usarmos seis projetores de alta potência no palco, com os quais criamos efeitos em duas dimensões. O custo do espetáculo seria de R$ 30 mil, mas a empresa On Projeções nos ajudou e o reduziu pela metade — conta o diretor, Bruno Beltrão, que recebeu convites para levar o espetáculo à Inglaterra, à Escócia e a Portugal em 2006. — Na Europa, o aluguel de projetores é bem mais barato que no Brasil.
Durante o ano que chega ao fim, "H2 2005" passou por cinco países. A estréia foi no Spring Dance Festival, na capital holandesa. Depois rumou para Alemanha, Austria, Bélgica e Coréia do Sul. Graças a esse trabalho, Beltrão foi eleito revelação do ano pela "Ballet-tanz", a revista de dança mais conceituada da Europa.
Animado com a repercus-são, ele afirma que "H2 2005" passará a ser o carro-chefe de sua companhia, que tem ou-«tras quatro coreografias no re-pertório. Os seis ballarinos que as executam, contudo, não estão entre os 12 protagonistas de "H2 2005", estes recru-tados no ano passado em cinco estados brasileiros. Todos, porém, respondem pelo nome
Grupo de Rua de Niterói.
— Os seis já tinham uma turnê de dois meses e meio agendada na França no mesmo período que "H2" estrearia na Holanda, por isso precisei de novos bailarinos. A turnê francesa dos antigos foi ótima, passou por 20 cidades. Numa das cinco apresentações no Centro Georges Pompidou, uma diretora da Opera de Paris nos viu e me fez uma proposta de trabalho. Ficamos de retomar as conversas em 2006, mas ainda não sei como encaixar o que faço na Opera de Paris — diz Beltrão, que agora negocia a montagem de "H2 2005" em São Paulo.
Coreógrafo agora quer dirigir um filme
O coreógrafo, de 26 anos, tem mais tres projetos para o próximo ano. Quer criar uma coreografia para um grupo pe-queno, de no máximo cinco de seus bailarinos; dirigir um filme de longa-metragem com todos eles (os seis veteranos e os 14 recém-arregimentados) e produzir um software para ajudar no processo de elaboração dos espetáculos. (Eduar-do Fradkin) •


