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A ternura silenciosa do breakdance

Isabella Pohl

 

Falou-se numa “reinvenção do breakdance” quando Bruno Beltrão apareceu pela primeira vez no festival em 2005 com H2. O seu trabalho seguinte chama-se agora H3 e apenas se refere às suas raízes hip-hop entre aspas. Beltrão, hoje com 29 anos, foi dançarino de rua em Niterói, subúrbio do Rio de Janeiro, antes de fundar seu Grupo de Rua, com o qual vem trabalhando numa reescrita das regras do break dance para fins de narrativa teatral, observada de perto por festivais internacionais de dança há vários anos.

 

Em H3, que teve a sua estreia na segunda-feira na sala G do MuseumsQuartier, os seus nove bailarinos emergem lentamente das sombras escuras do palco. O ruído dos carros a passar sugere a proximidade do tráfego rodoviário. Mas os jovens, que entram no ringue com os braços abanam como lutadores, já entraram num espaço narrativo de outra esfera: Os bailarinos de Beltrão fazem com que a realidade da rua, os confrontos incessantes e os rituais de afirmação fiquem muito para trás.

 

Na sua atuação de quase uma hora, eles não só quebram as regras precisamente codificadas das batalhas de hip-hop, como também exploram suavemente as fronteiras entre as conformidades humanas e, não menos importante, a resiliência das suas relações entre si. No meio do breakdance tradicionalmente bastante estereotipado, duro e masculino, Beltrão também significa uma procura de possibilidades expressivas.

 

As possibilidades de sensibilidade e ternura.

 

A dança acelerada dos nove protagonistas centra-se inicialmente em poses de luta e demonstrações de poder. Nos duelos íntimos, o temperamento dos movimentos muda: pulsos delicados apoiam-se suavemente nas ancas do adversário, uma cabeça afunda-se no ombro do outro como que por engano, mas o punho permanece sempre cerrado. Um ataque rápido e contorcido compensa a aproximação, que parece ter acontecido involuntariamente, e como um bando de pássaros os dançarinos rodopiam em círculo, depois esforçam-se poderosamente para fora um do outro.

 

Uma procura de identidade fascinante, sensual e silenciosa. Em vez de batidas fortes, ouve-se apenas o ranger suado dos ténis no chão do palco.

 

13 e 14 de maio, 20h30, Sala G

O ex-dançarino de rua brasileiro Bruno Beltrão explora as fronteiras interpessoais. Na sua nova peça “H3” os seus hip-hoppers abordam o teatro associativo no Wiener Festwochen

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