Breaking Paris 2024
Como você viu a admissão do breaking como esporte olímpico? Acha que vai ser bom ou ruim pro gênero e por quê?
No caso do breaking, a inclusão nas Olimpíadas parece coerente e um caminho natural. O breaking como modalidade olímpica é apenas mais uma ramificação do que as danças do hip hop podem ser e se transformar. A Olimpíada é mais um passo na luta por validação de uma arte que foi muito discriminada como profissão.
Se fosse qualquer outra dança, a situação seria bem mais complexa. Basta lembrar a grande polêmica gerada quando o Conselho Federal de Educação Física (Confef) tentou controlar o processo de ensino das danças no Brasil, confrontando a consciência geral e pacificada de que a dança não é, de forma alguma, um esporte. O breaking, entretanto, é uma dança que sempre aceitou bem a ideia de estar na interseção entre arte e a competição.
Na verdade a olimpíada vem acelerar um regramento mais cientifico de algo que ja acontecia muito bem apenas pelo conhecimento imediato e subjetivo dos juízes.
Em 2021, quando foi decidido que o breaking viraria olímpico, o Nelson Triunfo, um dos pioneiros do gênero no Brasil, disse que esperava que aquilo serviria como um “pavio para tocar fogo em todo o país”, estimulando mais praticantes e mais estrutura. Já deu para ver algo nesse sentido?
Essa oportunidade nós perdemos. Acho o breaking brasileiro fortíssimo, principalmente se considerar as condições em que ele é praticado.
Lá atrás, quando foi anunciado, imaginei uma rede institucional mais forte e mais presente do que realmente aconteceu. Não me conformo como que essa e outras danças não terem uma inserção na rede de ensino brasileira.
Mas não da para esquecer que logo após o anúncio da inclusão, em dezembro de 2020, ainda encararíamos mais 3 anos do pior governo para a cultura até hoje. E por não valorizar a produção cultural brasileira como um todo, acabou apagando possibilidade de um projeto nacional para o breaking. A olimpíada era esse norte para alavancar o processo e a cultura dessa dança-esporte no Brasil. Não me espantarei em nada se em 2028 estivermos numa situação parecida.
Se o Brasil tem (pelo menos à primeira vista) uma cena de breaking forte e consolidada, por que não nos classificamos para as Olimpíadas?
Essa confusão criada na escolha da confederação gerou um clima de incerteza entre os bboys e bgirls.
Mas apesar do processo de organização não ter sido bem feito, tivemos dois grandes nomes brasileiros na Olimpic Qualifiers Series e infelizmente não conseguiram chegar la.
O que o mundo pode esperar do novo esporte nos Jogos de Paris? E o que você espera?
Vamos conhecer o sistema de julgamento Trivium sendo aplicado na sua arena mais exigente e todos esperam que ele se revele coerente e justo na medida do possível. Vai ser uma grande festa e tenho certeza que vai prevalecer o espirito de respeito e celebração que a Olimpíada já traz com ela.
Há francos favoritos a medalhas de ouro?
Acho todos os competidores muito fortes. Muito legal esse encontro da velha geração como Hong 10 e Ayumi com incríveis 41 anos, com jovens dançarinos como Hiro10 e a holandesa India, mas não consigo imaginar alguém favorito. Torço muito pelo bboy Amir, pelo seu foco em criar rotinas diferentes e na invenção e criatividade, o que me atrai mais.
Como isso afeta o GRN?
Acredito que o Grupo de Rua, assim como toda a cena, se beneficiará de alguma forma com essa exposição, pois isso vai elevar ainda mais o alto nível que o breaking já possui.
Há um Pelé (ou uma Marta, ou Biles ou Rebeca) no gênero?
Acho que nao. Talvez essa questão seja respondida após algumas edições das Olimpíadas e a medida que os atletas se destacarem. Mas será que teremos breaking na próxima edição?
Espero que possamos aprender com o exemplo da Rebeca, e mudar de uma cultura da exceção e valorização depois da fama para uma que fortaleça o processo e a cultura esportiva de verdade.